

PREOCUPAÇÃO
Fevereiro 2014
“Não vos aflijais, nem digais: Que comeremos? Que beberemos? Com que nos vestiremos? São os pagãos que se preocupam com tudo isso. Ora, vosso Pai celeste sabe que necessitais de tudo isso. Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça e todas estas coisas vos serão dadas em acréscimo. Não vos preocupeis, pois, com o dia de amanhã: o dia de amanhã terá as suas preocupações próprias. A cada dia basta o seu cuidado”. (Mateus 6:31-34).
O ser humano, na contemporaneidade, vive em aflição e ele mesmo se aflige criando os seus próprios dilemas, sofrendo com a SPA (Síndrome do Pensamento Acelerado) e o stress do dia a dia.
Meu avô dizia que quando um problema não tem solução é porque esse problema já está resolvido. Portanto, não cabia mais qualquer preocupação em torno dele. Isso não quer dizer que não devamos tentar, a qualquer custo, resolver os problemas que nos afligem. Porém, alguns problemas ultrapassam a nossa capacidade humana de resolvê-los, nos deixando impotentes para achar a solução. Entendi, pois, que meu avô estava querendo dizer que não era para ficarmos perdendo tempo, ocupando a nossa mente com algo que não nos traria proveito algum.
A palavra preocupação pode ser analisada no seu aspecto temporal, pois nos remete ao passado, estando no presente, mas vislumbrando o futuro. O termo pré-ocupação, em sentido figurado, significa ocupar-se antecipadamente com algo que ainda vai (ou pode) acontecer. O ato de se preocupar é natural, mas pode ser maléfico ou benéfico.
Quando será que a preocupação pode ser nociva às nossas mentes? Quando passamos a ocupá-las com coisas banais e sem importância, impedindo a livre reflexão do pensamento e a consciência para agir em busca da solução dos problemas. Quando Jesus disse: “Não vos preocupeis com o que vais comer, vestir...” O Mestre se refere exatamente a isso: que não devemos ser escravos das coisas porque o mais importante é buscar o Reino de Deus e a sua justiça. Preocupar-se excessivamente com tais coisas se torna nocivo, porque aliena a mente, causa depressão e bloqueia o nosso agir em torno de uma “causa justa”.
Por outro lado, a preocupação pode ser benéfica. Quando entendemos que precisamos achar uma solução para um determinado problema (a curto, médio e/ou longo prazos) estamos fazendo, nada mais, nada menos, do que um projeto. E todo projeto exige um planejamento para uma ação (pré-ocupação), visando à solução de um dado problema. Nesse sentido, preocupar-se se torna saudável, porque a mente estaria ocupada com algo que pode trazer benefícios diversos.
O nosso viver em sociedade deve se constituir nesse dinâmico processo de “pensar-agir” em torno de problemas, procurando maneiras inteligentes para solucioná-los. Esse livre processo contínuo do pensamento-ação é a chave para abertura ou liberação da consciência (individual e coletiva), nos tornando humanos úteis e proativos (intelectualidade verdadeira*) na sociedade. Como já dizia Karen Horney: “A preocupação deveria levar-nos à ação e não à depressão”.
O grande problema é quando a mente se torna “oficina do diabo”: Aquela mente vazia que dá lugar para o mal ou está ocupada com as coisas banais dessa vida; ou, até mesmo, carregada de conhecimentos, porém desconectados de uma ação social benéfica (intelectualidade falsa).
O não se preocupar com o dia de amanhã, porque o amanhã pertence a Deus, não se traduz em acomodação mental. Quer dizer simplesmente que os problemas de hoje (atemporal) são mais importantes e exigem muito mais da nossa atenção e esforço para resolvê-los hoje! No mais tardar, até à meia noite! “A cada dia basta o seu cuidado”.
Buscar em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça é dar prioridade às causas do amor (amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo), da fé, da justiça e da salvação, em uma sociedade injusta e desigual. Agindo assim, com espírito voluntário e espontâneo e sem qualquer imposição moral ou eclesiástica, nos sentimos livres, aliviados e descansados, com a sensação de dever cumprido. Logo, as demais coisas necessárias para o nosso viver serão devidamente acrescentadas, sem maiores traumas ou preocupações.
Portanto, viver no reino de Deus é ter garantia total de liberdade, paz e segurança. Porque Jesus é o nosso descanso, o nosso socorro bem presente na hora da angústia e aflição. Ele é o alívio infalível para os nossos fardos pesados, todo cansaço e toda opressão.
Aceitemos então o convite do mestre e bom pastor: “Vinde a mim todos os que estais cansados e oprimidos e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.” (Mateus 11:28-30).
* Segundo o filósofo francês Julien Benda, os verdadeiros intelectuais são criaturas raras, uma vez que defendem padrões de justiça e de verdade que não são precisamente deste mundo. Para Benda, os verdadeiros intelectuais não buscam essencialmente objetivos práticos, satisfação pessoal, isto é, vantagens materiais. O verdadeiro intelectual fala a verdade sem medo de represálias, como se diz no senso comum: “põe a boca no trombone”, este verdadeiro intelectual denuncia casos de corrupção e injustiça social.
Graça e Paz de Jesus!
Jaécio Matos
O QUE FAZEMOS NO MUNDO?
(Jaécio Matos)
O mundo mudou, ou melhor, vem mudando ao longo da história. Os avanços da ciência e tecnologia em conjunto com as novas relações sociais; potencializadas pelas redes de internet, vem promovendo mudanças de comportamento nos seres humanos.
Não obstante, não há garantia que todo processo de mudança gere desenvolvimento qualitativo para a sociedade. Não há como negar os inúmeros benefícios. No entanto, também são grandes os males causados. Todos sonham (ou já sonharam) ter um mundo melhor. Como o saudoso Jonh Lennon dizia: Não sou o único sonhador. Resta saber que mundo melhor é esse que queremos.
Quando pensamos em um mundo melhor, logo vem a ideia de justiça social (com a melhoria da qualidade de vida de todos os povos), a garantia da dignidade da pessoa humana e a extinção da pobreza. Na realidade, esse sonhado mundo melhor não seria impossível. O fato é que o poder econômico e os governos constituídos poderiam resolver nossos principais problemas. Dinheiro não falta no mundo para isso, mas os interesses escusos do grande capital, entre outros fatores, aniquilam tal possibilidade de distribuição mais justa da renda para a população. Eles priorizam as guerras ao invés da paz. Nosso mundo é maravilhoso, mas também é terrível. E a gente quer mesmo é viver, é cantar, é sorrir e ser feliz.
Na sociedade, várias são as opiniões e os discursos acerca de como fazer para tornar nosso mundo melhor. Rita Lee, em uma de suas canções, diz: "Me cansei de lero, lero... Me cansei de escutar opiniões de como ter um mundo melhor". E termina a música com esse verso: "Mas, enquanto estou viva e cheia de graça, talvez ainda faça um monte de gente feliz." Em geral, esse desabafo expressa também o nosso sentimento de que existem muito mais palavras do que ações efetivas no trato dessa questão, embora saibamos que estamos diante desse imenso desafio. A filosofia, a ciência, as artes, as religiões tentam encontrar os caminhos. No fundo mesmo, o que necessitamos é de humanidade, é fazermos jus ao privilégio de sermos chamados de "humanos".
Assim, não podemos deixar de reconhecer que, apesar de não sermos capazes, individualmente, de mudar o mundo, podemos fazer parte (se assim quisermos) de uma "corrente do bem", em que a soma contagiante da benignidade poderá afetar a todos. Mas, vale o velho ditado: "Se não podemos (ou queremos) mudar o mundo, podemos mudar a nós mesmos". O velho homem existente em nós não será capaz de agir nessa direção, devido a preconceitos, orgulho, intolerância, imoralidade, intransigência... Realmente, precisamos todos de um “novo nascimento”.
Temos a vida e a obra do Mestre Jesus Cristo como o maior exemplo deixado para a humanidade. Ele revolucionou o mundo inteiro com suas atitudes, ações e seu grande amor. Ensinou-nos como devemos viver e amar. Em um de seus marcantes ensinamentos, Ele alertava: "De que adianta o homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma"? Porque estamos perdendo a nossa alma, ou seja, a alma aqui significando nossa humanidade, os valores universais, a nossa civilidade, a nossa solidariedade, a nossa honra, a nossa dignidade, o nosso amor, tolerância, compreensão, afeto, gratidão... Enfim, ao perder a nossa alma nos tornamos insensatos, imprestáveis, uma espécie de "lixo" para o mundo.
Na verdade, no fundo, parece que ninguém quer mudar o mundo. Nós, humanos, escrevemos e fazemos a história através das nossas ações. A qualidade da mudança depende da nossa sabedoria, capacidade e ética. A história nos ensina que, até aqui, não encontramos o sentido e a ideal transformação do mundo; e, talvez, não encontraremos. Entretanto, se não mudamos o mundo, podemos sim contribuir para torná-lo um pouco melhor. Seja com ações e projetos sócio-culturais, ambientais, ou até mesmo com pequenos gestos ou atitudes singelas de amor ao próximo, fazendo pessoas mais felizes, sem querer nada em troca.
Esse nosso projeto "Cafezin dos poetas" também se insere nesse contexto. Dessa forma, propomos continuar fazendo alguém mais feliz, quem sabe. A contribuição das artes, através da poesia, da literatura, da música, etc, é fundamental, pois, certamente, consegue agregar valores essenciais ao desenvolvimento humano. Se cada um faz a sua parte nessa corrente do bem, assim, juntos, podemos muito. Não importa o tamanho de seu feito. O importante é que tenha sido bom. Ele, com certeza, fez diferença no mundo. Vivemos num grande sistema, onde a atitude de um afeta o todo. Portanto, façamos sempre algo positivo, nem que seja emitir pensamentos iluminados.
Para concluir, cito o exemplo brilhante dos girassóis: Mesmo em tempos chuvosos o girassol não cai, não se inclina para baixo. Ao contrário, em tempos nublados, ele se ergue e se vira para outro girassol, em sinal de complacência e ternura. Isso é muito interessante! Se apenas agirmos como os girassóis, vendo e sentindo os outros em nós mesmos, já seria um grande avanço. Essa deve ser uma ação natural, sem obrigação, sem qualquer imposição externa ou barganha, respeitando o nosso livre árbitrio.
Em síntese, não precisamos ansiar querer brilhar mais do que o sol ou as estrelas. Eles têm seu brilho natural; e nós também temos o nosso. Dalai Lama já dizia: “O planeta não precisa de mais pessoas de sucesso. O planeta precisa desesperadamente de mais pacificadores, curadores, restauradores, contadores de histórias e pessoas amorosas de todo tipo”. A sabedoria está em gente humilde. Nosso "admirável mundo novo" é complexo. Atualmente vivemos (quase todos), de alguma maneira, dependentes das redes sociais. Nesse mundo virtual que substitui cada vez mais o real. Vivemos na era da dissolução dos parâmetros ético-morais da sociedade, em que o individualismo, o egoísmo, o consumismo e a solidão ganham espaço, em detrimento da sinergia altruísta. Todavia, podemos combater o bom combate, seguindo os exemplos de Jesus e dos girassóis, sem o maniqueísmo do bem e do mal. Daqui deste mundo não levaremos nada, mas deixaremos as lembranças.