

O CRENTE E O MUNDO: CONFORMAÇAO OU TRANSFORMAÇAO?
Dezembro 2013
“E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Romanos 12:2).
1. INTRODUÇAO
Gosto muito desse versículo bíblico. Certamente foi um momento de muita lucidez e inspiração do apóstolo Paulo, quando o escreveu. Essa passagem das escrituras sagradas traduz muito bem o sentido da existência do evangelho da ação e, ao mesmo tempo, o da graça de Jesus. Nesse verso podemos entender e definir de fato quem somos nós e porque e para que vivemos. Ele define, em poucas palavras, quem é um verdadeiro cristão.
Que mundo é esse que não devemos nos conformar? Em outra tradução bíblica a palavra mundo é substituída por “presente século”, no sentido de que abarca toda uma geração de tempo vivido, revelando suas anomalias e os desvios éticos e morais da sociedade secular.
Nesse sentido, não devemos nos conformar com o mal desse século, que pode ser tudo aquilo que afronta o evangelho puro e santo da graça do Senhor Jesus. Isto é, as injustiças de qualquer natureza, a idolatria, a soberba, o engano, a falsidade, a mentira, o ódio, a inveja, a ganância, a falta de amor e perdão, os maus tratos para com o meio ambiente, as falsas doutrinas e heresias; enfim, tudo aquilo que é fruto do pecado e que se opõe ao evangelho vivido e pregado pelo mestre Jesus.
Mas, não se conformar com essas coisas, ou somente indignar-se com elas não é suficiente para a transformação necessária. É muito fácil ver, sentir e indignar-se com tudo que está errado no mundo; criticar e colocar a culpa nos outros, no sistema econômico, na religião ou no governo, etc. Mais difícil é se reconhecer, e se incluir, e se identificar nesse processo como co-responsável por toda essa problemática.
Portanto, se fazemos parte desse mundo, ou pertencemos a ele, somos também, de certa forma, cúmplices de tudo o que acontece ao nosso redor, seja por negligência, omissão ou intromissão. Nesse contexto, como resultado, poderemos nos tornar (como cidadãos) os principais agentes dessa transformação, se assim desejarmos.
2. QUAL É A NOSSA IDENTIDADE?
Nessa ótica, pensando na vida em sociedade, podemos identificar pelo menos quatro tipos de indivíduos: 1) os conformados com o mundo; 2) os inconformados críticos; 3) os inconformados formatados e 4) os inconformados renovados.
Eis a questão: Em qual desses tipos de pessoas se classificaria o que podemos chamar de verdadeiro ou autêntico cristão?
1) Os conformados com o mundo
Se conformar (agir conforme as regras e condições estabelecidas) com o mundo é para aqueles que querem continuar do jeito que estão. Esses querem “dançar conforme a música”. Já estão saturados com tudo, não têm esperança na mudança e/ou estão acomodados, achando que o mundo é assim mesmo e não tem mais jeito.
São pessoas que se deixam envolver com o mundo de tal maneira que o pecado e o engano cegaram o seu entendimento da verdade: “Porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu” (Romanos 1: 21).
2) Os inconformados críticos
O segundo tipo de indivíduo é aquele que não se conforma (se indigna facilmente) com os problemas, critica tudo e a todos, mas não se dispõe para a mudança necessária e não se inclui no processo. Muitas vezes tem conhecimento do que acontece na sociedade e no mundo, porém, não se reconhece e nem se compromete com a transformação.
Esses indivíduos que se comportam dessa maneira geralmente são egoístas, orgulhosos e não são humildes para o arrependimento, que os credenciaria para a restauração e a transformação da vida pessoal. Assim, deixam-se envolver com vãs filosofias, com o seu “eu” (razão), que os impedem de alcançar o discernimento e a verdade: “Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos. E mudaram a glória de Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis”. (Romanos 1: 22-23).
3) Os inconformados formatados
O terceiro tipo de pessoa diz respeito àqueles que, mesmo não se conformando com este mundo, perderam o discernimento espiritual por terem se deixado formatar por dogmas e doutrinas religiosas criadas além da palavra de Deus; e também pela cultura dominante (utilitarista e consumista).
“Sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação” (II Pedro 1:20). “Porque eu testifico a todo aquele que ouvir as palavras da profecia deste livro, que se alguém lhes acrescentar alguma coisa, Deus fará vir sobre ele as pragas que estão escritas neste livro” (Apocalipse: 22:18). “Mas o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores e a doutrinas de demônios” (I Timóteo 4:1).
Preocupam-se muito em agradar à denominação eclesiástica e aos seus líderes; praticam rituais, dogmas ou cultos supostamente “revelados” pelo Senhor, que os tornam presa fácil das heresias e da manipulação religiosa e espiritual:
“Tende cuidado, para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo” (Colossenses: 2:8). “E também houve entre o povo falsos profetas, como entre vós haverá também falsos doutores, que introduzirão encobertamente heresias de perdição, e negarão o Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina perdição” (II Pedro 2:1).
Esses podem se comportar como os fariseus, que procuram cumprir ao pé da letra a Lei e aos usos e costumes do seu tempo: “Alguns, porém, da seita dos fariseus, que tinham crido, se levantaram, dizendo que era mister circuncidá-los e mandar-lhes que guardassem a lei de Moisés (Atos 15:5).
São pessoas que se preocupam mais com a aparência (exterior) do que com a essência (interior):
“Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque limpas o exterior do copo e do prato, mas estes, por dentro, estão cheios de rapina e iniqüidade! Fariseu cego, limpa primeiro o interior do copo, para que também o seu exterior fique limpo! Vocês são como sepulcros caiados, que por fora, se mostram belos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda imundícia! Assim também vós exteriormente pareceis justos aos homens, mas, por dentro, estais cheios de hipocrisia e de iniqüidade” (Mateus 23.25-28).
Geralmente medem a sua espiritualidade de acordo com a freqüência aos cultos, a obediência às orientações de seus líderes e aos seus esforços pessoais e trabalhos em prol da organização eclesiástica a qual fazem parte.
Para eles, quanto mais dedicado forem à igreja, à obra... (organizações eclesiásticas) mais espirituais e santificados se tornam. Porém, devido ao fardo que carregam, não conseguem viver o que pregam: “Agora, pois, por que tentais a Deus, pondo sobre a cerviz dos discípulos um jugo que nem nossos pais nem nós podemos suportar”? (Atos 15:10)
Geralmente são membros de seitas, que apesar de também usar a bíblia como referência, interpretam textos sagrados fora do contexto, para adequá-los às suas conveniências doutrinárias e regras estabelecidas:
“Se alguém ensina alguma outra doutrina, e se não conforma com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo, e com a doutrina que é segundo a piedade, é soberbo, e nada sabe, mas delira acerca de questões e contendas de palavras, das quais nascem invejas, porfias, blasfêmias, ruins suspeitas” (I Timóteo 6:3-4).
Tais indivíduos estão tão convictos naquilo que crêem, que dificilmente conseguem enxergar outro tipo de evangelho, e sequer admitem estar equivocados. Consequentemente, se tornam presos ao sistema religioso e cegos para discernir o mundo espiritual à sua volta:
“Pela hipocrisia de homens que falam mentiras, tendo cauterizada a sua própria consciência” (I Timóteo 4:2). “Não vos deixeis levar em redor por doutrinas várias e estranhas, porque bom é que o coração se fortifique com graça, e não com manjares, que de nada aproveitaram aos que a eles se entregaram” (Hebreus 13:9).
Dentro desse grupo podemos também classificar certas pessoas que pertencem a determinados partidos políticos ideológicos e organizações secretas. Acrescentam-se ainda, com destaque, muitos que estão alienados pelo sistema econômico-político-social ao qual vivem e são formatados por uma cultura utilitarista e consumista, que valorizam mais o ter do que o ser.
Segundo a tradução bíblica na linguagem contemporânea de Eugene Peterson, o verso dois (2) do capítulo doze (12) da carta do apóstolo Paulo aos Romanos (que é o texto base deste estudo que ora comento) diz assim:
“Não se ajustem demais à sua cultura, a ponto de não poderem pensar mais. Em vez disso, concentrem a atenção em Deus. Vocês serão mudados de dentro para fora. Descubram o que ele quer de vocês e tratem de atendê-lo. Diferentemente da cultura dominante, que sempre os arrasta para baixo, ao nível da imaturidade, Deus extrai o melhor de vocês e desenvolve em vocês a verdadeira maturidade”.
4. Os inconformados renovados
O quarto tipo de indivíduo é aquele que consideramos possuir as características do autêntico e verdadeiro cristão. É aquele que não se conforma com este presente século, não se deixando formatar por essa cultura dominante e corrompida: “Para que sejais irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis no meio de uma geração corrompida e perversa, entre a qual resplandeceis como astros no mundo” (Filipenses 2: 15).
Pertencem a este grupo os humildes e nobres, os puros de coração. Reconhecem que fazem parte desse mundo, mas não se deixam contaminar por ele; que também é um pecador arrependido, propício a buscar a transformação e a santificação em Cristo Jesus:
“Que, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe pelas concupiscências do engano. E vos renoveis no espírito do vosso sentido. E vos revistais do novo homem, que segundo Deus é criado em verdadeira justiça e santidade” (Efésios 4:22-24).
Vivem em sinceridade e quebrantamento diante do seu Deus: “Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração: prova-me e conhece os meus pensamentos. E vê se há em mim algum caminho mau, e guia-me pelo caminho eterno” (Salmos 139:23-24).
Quem age assim se torna um cidadão pró-ativo na sociedade, demonstrando seu caráter cristão, sua nobreza, sensatez e dignidade; estando, portanto, em condições de produzir os frutos do Espírito Santo: “Mas o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança. (Gálatas 5:22). E Jesus ainda conclui dizendo: “Toda árvore boa produz bons frutos e toda árvore má produz maus frutos” (Mateus 7.17).
3. CONSIDERAÇOES FINAIS
O que vai diferenciar os autênticos cristãos dos demais tipos de indivíduos é justamente porque eles não são apenas inconformados com este presente século; que reconhecem estar no mundo (quem somos nós, afinal; e o que fazemos aqui?). Mas, principalmente, porque eles abrem os seus corações e dão liberdade para que seja feita a mudança profunda e necessária do “eu” (indivíduo), através da renovação da mente.
Uma vez transformados pela renovação da mente os verdadeiros cristãos podem se conhecer mais profundamente e entender a sua razão de ser e existir no mundo; e quais valores devem preservar e seguir:
“Com o fim de sermos para o louvor da sua glória, nós o que primeiro esperamos em Cristo. Em quem também vós estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, e, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa. Tendo iluminados os olhos do vosso entendimento, para que saibais qual seja a esperança da sua vocação, e quais as riquezas da glória da sua herança nos santos” (Efésios 1: 12,13 e 18). “Tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude e louvor, seja isso que ocupe o vosso pensamento.” (Filipenses 4:8).
Meu querido irmão e Pr. Jarbas, em sua reflexão dizia:
“Jesus nos deu uma identidade. Somos o sal da terra e a luz do mundo, logo não estamos aqui para sermos influenciados, mas para influenciarmos, vivermos na contracultura prevalecente, sermos astros em meio a essa geração perversa e corrompida, brilharmos diante dos homens com as nossas boas obras, para que eles glorifiquem ao nosso Pai que está nos céus. O sal tem que ser sápido e não insípido”.
Dessa forma, renovados e libertos da formatação e influência do mal desse século, somos aptos a discernir o santo do profano. E podemos experimentar qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.
No velho testamento essa vontade de Deus se traduziu através da Lei e dos profetas. Nos nossos dias ela se revela a nós através de Cristo Jesus. Em Cristo, somente, há possibilidade da mente ser completamente renovada. E Isso é privilégio para aqueles que resolvem não se conformar com esse mundo e que procuram continuamente o aperfeiçoamento na vida cristã. “Porque, quem conheceu a mente do Senhor, para que possa instruí-lo? Mas nós temos a mente de Cristo” (I Corintios 2:16).
Concluindo, já vimos que ser conformado com esse mundo é aceitar o que está aí, achando tudo aparentemente normal; é está com a mente formatada pelos valores desse presente século. Permanecer assim é ficar impossibilitado de tomar qualquer atitude de mudança, tampouco fazer qualquer juízo de valor para discernir o certo do errado. É não querer compromisso algum com Deus. E, como resultado, perde-se a benção da salvação e o discernimento espiritual.
Compartilhando com o meu irmão e Pr. Jarbas, a grande questão é:
“O que eu estou fazendo com o que querem fazer de mim? Eles querem nos moldar como um bando que satisfaça seus interesses. Clamemos a Deus que coloque em nossas cabeças o capacete da salvação para que a nossa mente não seja deteriorada pelos inimigos externos, que estão o tempo todo querendo entrar e fazer morada em nosso mundo interior. Como Davi orou mandando estes assassinos caírem fora, assim também devemos orar e levar os nossos pensamentos cativos a Cristo, tendo a mente dele, como disse muito bem o Apóstolo Paulo – “Eu tenho a mente de Cristo”.
Assumir o papel de autêntico e verdadeiro cristão é estar disposto à renovação da mente, constantemente. É entender e incorporar os valores da fé como meio de graça; praticando os ensinamentos de Jesus o nosso Salvador e Senhor e vivendo o pleno evangelho da graça.
Não um evangelho conformado com este mundo, mas o simples e puro evangelho da verdade, do amor e da graça de Jesus, que transforma e liberta o
ser humano, se assim ele quiser (Deus nos deu o livre arbítrio). “E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará.” “Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres” (João 8: 32 e 36).
Finalmente, fica uma pergunta para a nossa reflexão pessoal: Será que alguém, quando chega perto de mim, encontra frutos? Eu estou alimentando a vida dos outros com a minha vida? O que estou fazendo aqui como servo de Deus, Criador de todas as coisas? Eu estou de fato produzindo frutos bons?
Caro leitor, espero que este singelo estudo possa servir a nós como um alento e nos encher de vontade e fé, para prosseguirmos nessa caminhada triunfal na presença do nosso Senhor Jesus para todo o sempre.
Ao único Deus, sábio, seja dada glória por Jesus Cristo para todo o sempre. Amém. (Rom 16:27).
Graça e Paz de Jesus!
O QUE FAZEMOS NO MUNDO?
(Jaécio Matos)
O mundo mudou, ou melhor, vem mudando ao longo da história. Os avanços da ciência e tecnologia em conjunto com as novas relações sociais; potencializadas pelas redes de internet, vem promovendo mudanças de comportamento nos seres humanos.
Não obstante, não há garantia que todo processo de mudança gere desenvolvimento qualitativo para a sociedade. Não há como negar os inúmeros benefícios. No entanto, também são grandes os males causados. Todos sonham (ou já sonharam) ter um mundo melhor. Como o saudoso Jonh Lennon dizia: Não sou o único sonhador. Resta saber que mundo melhor é esse que queremos.
Quando pensamos em um mundo melhor, logo vem a ideia de justiça social (com a melhoria da qualidade de vida de todos os povos), a garantia da dignidade da pessoa humana e a extinção da pobreza. Na realidade, esse sonhado mundo melhor não seria impossível. O fato é que o poder econômico e os governos constituídos poderiam resolver nossos principais problemas. Dinheiro não falta no mundo para isso, mas os interesses escusos do grande capital, entre outros fatores, aniquilam tal possibilidade de distribuição mais justa da renda para a população. Eles priorizam as guerras ao invés da paz. Nosso mundo é maravilhoso, mas também é terrível. E a gente quer mesmo é viver, é cantar, é sorrir e ser feliz.
Na sociedade, várias são as opiniões e os discursos acerca de como fazer para tornar nosso mundo melhor. Rita Lee, em uma de suas canções, diz: "Me cansei de lero, lero... Me cansei de escutar opiniões de como ter um mundo melhor". E termina a música com esse verso: "Mas, enquanto estou viva e cheia de graça, talvez ainda faça um monte de gente feliz." Em geral, esse desabafo expressa também o nosso sentimento de que existem muito mais palavras do que ações efetivas no trato dessa questão, embora saibamos que estamos diante desse imenso desafio. A filosofia, a ciência, as artes, as religiões tentam encontrar os caminhos. No fundo mesmo, o que necessitamos é de humanidade, é fazermos jus ao privilégio de sermos chamados de "humanos".
Assim, não podemos deixar de reconhecer que, apesar de não sermos capazes, individualmente, de mudar o mundo, podemos fazer parte (se assim quisermos) de uma "corrente do bem", em que a soma contagiante da benignidade poderá afetar a todos. Mas, vale o velho ditado: "Se não podemos (ou queremos) mudar o mundo, podemos mudar a nós mesmos". O velho homem existente em nós não será capaz de agir nessa direção, devido a preconceitos, orgulho, intolerância, imoralidade, intransigência... Realmente, precisamos todos de um “novo nascimento”.
Temos a vida e a obra do Mestre Jesus Cristo como o maior exemplo deixado para a humanidade. Ele revolucionou o mundo inteiro com suas atitudes, ações e seu grande amor. Ensinou-nos como devemos viver e amar. Em um de seus marcantes ensinamentos, Ele alertava: "De que adianta o homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma"? Porque estamos perdendo a nossa alma, ou seja, a alma aqui significando nossa humanidade, os valores universais, a nossa civilidade, a nossa solidariedade, a nossa honra, a nossa dignidade, o nosso amor, tolerância, compreensão, afeto, gratidão... Enfim, ao perder a nossa alma nos tornamos insensatos, imprestáveis, uma espécie de "lixo" para o mundo.
Na verdade, no fundo, parece que ninguém quer mudar o mundo. Nós, humanos, escrevemos e fazemos a história através das nossas ações. A qualidade da mudança depende da nossa sabedoria, capacidade e ética. A história nos ensina que, até aqui, não encontramos o sentido e a ideal transformação do mundo; e, talvez, não encontraremos. Entretanto, se não mudamos o mundo, podemos sim contribuir para torná-lo um pouco melhor. Seja com ações e projetos sócio-culturais, ambientais, ou até mesmo com pequenos gestos ou atitudes singelas de amor ao próximo, fazendo pessoas mais felizes, sem querer nada em troca.
Esse nosso projeto "Cafezin dos poetas" também se insere nesse contexto. Dessa forma, propomos continuar fazendo alguém mais feliz, quem sabe. A contribuição das artes, através da poesia, da literatura, da música, etc, é fundamental, pois, certamente, consegue agregar valores essenciais ao desenvolvimento humano. Se cada um faz a sua parte nessa corrente do bem, assim, juntos, podemos muito. Não importa o tamanho de seu feito. O importante é que tenha sido bom. Ele, com certeza, fez diferença no mundo. Vivemos num grande sistema, onde a atitude de um afeta o todo. Portanto, façamos sempre algo positivo, nem que seja emitir pensamentos iluminados.
Para concluir, cito o exemplo brilhante dos girassóis: Mesmo em tempos chuvosos o girassol não cai, não se inclina para baixo. Ao contrário, em tempos nublados, ele se ergue e se vira para outro girassol, em sinal de complacência e ternura. Isso é muito interessante! Se apenas agirmos como os girassóis, vendo e sentindo os outros em nós mesmos, já seria um grande avanço. Essa deve ser uma ação natural, sem obrigação, sem qualquer imposição externa ou barganha, respeitando o nosso livre árbitrio.
Em síntese, não precisamos ansiar querer brilhar mais do que o sol ou as estrelas. Eles têm seu brilho natural; e nós também temos o nosso. Dalai Lama já dizia: “O planeta não precisa de mais pessoas de sucesso. O planeta precisa desesperadamente de mais pacificadores, curadores, restauradores, contadores de histórias e pessoas amorosas de todo tipo”. A sabedoria está em gente humilde. Nosso "admirável mundo novo" é complexo. Atualmente vivemos (quase todos), de alguma maneira, dependentes das redes sociais. Nesse mundo virtual que substitui cada vez mais o real. Vivemos na era da dissolução dos parâmetros ético-morais da sociedade, em que o individualismo, o egoísmo, o consumismo e a solidão ganham espaço, em detrimento da sinergia altruísta. Todavia, podemos combater o bom combate, seguindo os exemplos de Jesus e dos girassóis, sem o maniqueísmo do bem e do mal. Daqui deste mundo não levaremos nada, mas deixaremos as lembranças.