

FRAGILIDADE, INFALIBILIDADE E A INCAPACIDADE DO SER HUMANO
Outubro 2014
“Digo-vos que não sabeis o que acontecerá amanhã. Porque que é a vossa vida? É um vapor que aparece por um pouco e depois se desvanece. Em lugar do que devíeis dizer: Se o Senhor quiser, e se vivermos, faremos isto ou aquilo. Mas, agora, vos gloriais em vossas presunções; toda glória tal como esta é maligna.” (Tiago 4:14-16)
O ser humano é frágil, falível e se mostra incapaz de encontrar a solução para diversos problemas que o cerca. Por outro lado, a inteligência e a razão são os seus trunfos capazes de suprir (até certo limite) suas deficiências diante da complexidade das coisas e do mundo.
Na constante busca pela verdade, o ser humano se depara com erros e incertezas e, nessa procura, segue questionando qualquer crença, buscando sempre evidências que sustentem sua veracidade. Não obstante, a “tolerância é a consequência necessária da percepção de que somos pessoas falíveis: errar é humano, e estamos o tempo todo cometendo erros” (Voltaire).
Nessa procura, o erro é sempre uma possibilidade. Em geral, a Filosofia ensina que é presunção do ser humano dizer que encontrou a verdade (como “certeza” absoluta) e àqueles que chegam a esse ponto não passam de “tiranos” detentores da verdade absoluta e do poder.
Em contrapartida, “só pelo conhecimento podemos nos libertar espiritualmente – da escravidão por falsas idéias, preconceitos e ídolos”, diz o filósofo Karl Popper. E o que dizer da afirmação do grande Mestre Jesus: “E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará... Eu sou o caminho, a verdade e a vida.
Seria Jesus, portanto, um presunçoso e tirano? O fato é que nenhum outro homem, além dEle, conseguiu vencer o maior de todos os problemas: A morte. Isso comprova sua natureza divina, sendo, pois, o Filho de Deus encarnado e autorizado pelo Pai, revestido de poder, honra e majestade, para executar por amor e com amor, o projeto de resgate e salvação da humanidade.
A grande constatação é que ao longo da nossa história, nenhum indivíduo, Estado ou governo, foi competente e/ou capaz de promover a construção da justiça social, a paz, o amor e a liberdade plena; as condições e os princípios fundamentais para dotar o ser humano de uma vida digna, de honra e de valor.
Por não alcançar tal êxito, nos tornamos miseráveis, fracos, opressores, oprimidos, carentes e totalmente dependentes da supremacia e soberania de Deus: “Ó ser humano! Ele já te revelou o que é bom; e o que o Senhor teu Deus exige de ti senão apenas que pratiques a justiça, ames a misericórdia e a lealdade, e andes humildemente na companhia do teu Deus!” (Miquéias 6:8).
É diante dessa realidade que a idéia de salvação e redenção proporcionada à humanidade, torna-se cada vez mais convincente. “Como está escrito: Não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda; não há ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só” (Romanos 3:10-12).
Se não fosse a Graça maravilhosa e redentora de Cristo Jesus, estaríamos fadados à perdição eterna. Deus enviou seu Filho, Justamente por sermos incapazes e miseráveis, não merecedores de tão grande salvação proporcionada ali naquela cruz do calvário.
E foi na ressurreição de Cristo que recebemos todos, de graça, essa dádiva divina. E com Ele fomos transportados da morte para a vida eterna. “Ora, se já morremos com Cristo, cremos que também com ele viveremos”. (Romanos 6:8). “E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste.” (João 17:3). “Pois Ele nos resgatou do domínio das trevas e nos transportou para o Reino do seu Filho amado, em quem temos a redenção, a saber, o perdão dos pecados." (Colossenses 1:13-14).
Àqueles que não chegaram ainda a essa conclusão é porque, decerto, esperam encontrar alguma solução milagrosa vinda da própria humanidade. Quem sabe possam achar alguém, ou alguma ciência pura, ou algum governo santo e incorruptível que os libertem plenamente.
O QUE FAZEMOS NO MUNDO?
(Jaécio Matos)
O mundo mudou, ou melhor, vem mudando ao longo da história. Os avanços da ciência e tecnologia em conjunto com as novas relações sociais; potencializadas pelas redes de internet, vem promovendo mudanças de comportamento nos seres humanos.
Não obstante, não há garantia que todo processo de mudança gere desenvolvimento qualitativo para a sociedade. Não há como negar os inúmeros benefícios. No entanto, também são grandes os males causados. Todos sonham (ou já sonharam) ter um mundo melhor. Como o saudoso Jonh Lennon dizia: Não sou o único sonhador. Resta saber que mundo melhor é esse que queremos.
Quando pensamos em um mundo melhor, logo vem a ideia de justiça social (com a melhoria da qualidade de vida de todos os povos), a garantia da dignidade da pessoa humana e a extinção da pobreza. Na realidade, esse sonhado mundo melhor não seria impossível. O fato é que o poder econômico e os governos constituídos poderiam resolver nossos principais problemas. Dinheiro não falta no mundo para isso, mas os interesses escusos do grande capital, entre outros fatores, aniquilam tal possibilidade de distribuição mais justa da renda para a população. Eles priorizam as guerras ao invés da paz. Nosso mundo é maravilhoso, mas também é terrível. E a gente quer mesmo é viver, é cantar, é sorrir e ser feliz.
Na sociedade, várias são as opiniões e os discursos acerca de como fazer para tornar nosso mundo melhor. Rita Lee, em uma de suas canções, diz: "Me cansei de lero, lero... Me cansei de escutar opiniões de como ter um mundo melhor". E termina a música com esse verso: "Mas, enquanto estou viva e cheia de graça, talvez ainda faça um monte de gente feliz." Em geral, esse desabafo expressa também o nosso sentimento de que existem muito mais palavras do que ações efetivas no trato dessa questão, embora saibamos que estamos diante desse imenso desafio. A filosofia, a ciência, as artes, as religiões tentam encontrar os caminhos. No fundo mesmo, o que necessitamos é de humanidade, é fazermos jus ao privilégio de sermos chamados de "humanos".
Assim, não podemos deixar de reconhecer que, apesar de não sermos capazes, individualmente, de mudar o mundo, podemos fazer parte (se assim quisermos) de uma "corrente do bem", em que a soma contagiante da benignidade poderá afetar a todos. Mas, vale o velho ditado: "Se não podemos (ou queremos) mudar o mundo, podemos mudar a nós mesmos". O velho homem existente em nós não será capaz de agir nessa direção, devido a preconceitos, orgulho, intolerância, imoralidade, intransigência... Realmente, precisamos todos de um “novo nascimento”.
Temos a vida e a obra do Mestre Jesus Cristo como o maior exemplo deixado para a humanidade. Ele revolucionou o mundo inteiro com suas atitudes, ações e seu grande amor. Ensinou-nos como devemos viver e amar. Em um de seus marcantes ensinamentos, Ele alertava: "De que adianta o homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma"? Porque estamos perdendo a nossa alma, ou seja, a alma aqui significando nossa humanidade, os valores universais, a nossa civilidade, a nossa solidariedade, a nossa honra, a nossa dignidade, o nosso amor, tolerância, compreensão, afeto, gratidão... Enfim, ao perder a nossa alma nos tornamos insensatos, imprestáveis, uma espécie de "lixo" para o mundo.
Na verdade, no fundo, parece que ninguém quer mudar o mundo. Nós, humanos, escrevemos e fazemos a história através das nossas ações. A qualidade da mudança depende da nossa sabedoria, capacidade e ética. A história nos ensina que, até aqui, não encontramos o sentido e a ideal transformação do mundo; e, talvez, não encontraremos. Entretanto, se não mudamos o mundo, podemos sim contribuir para torná-lo um pouco melhor. Seja com ações e projetos sócio-culturais, ambientais, ou até mesmo com pequenos gestos ou atitudes singelas de amor ao próximo, fazendo pessoas mais felizes, sem querer nada em troca.
Esse nosso projeto "Cafezin dos poetas" também se insere nesse contexto. Dessa forma, propomos continuar fazendo alguém mais feliz, quem sabe. A contribuição das artes, através da poesia, da literatura, da música, etc, é fundamental, pois, certamente, consegue agregar valores essenciais ao desenvolvimento humano. Se cada um faz a sua parte nessa corrente do bem, assim, juntos, podemos muito. Não importa o tamanho de seu feito. O importante é que tenha sido bom. Ele, com certeza, fez diferença no mundo. Vivemos num grande sistema, onde a atitude de um afeta o todo. Portanto, façamos sempre algo positivo, nem que seja emitir pensamentos iluminados.
Para concluir, cito o exemplo brilhante dos girassóis: Mesmo em tempos chuvosos o girassol não cai, não se inclina para baixo. Ao contrário, em tempos nublados, ele se ergue e se vira para outro girassol, em sinal de complacência e ternura. Isso é muito interessante! Se apenas agirmos como os girassóis, vendo e sentindo os outros em nós mesmos, já seria um grande avanço. Essa deve ser uma ação natural, sem obrigação, sem qualquer imposição externa ou barganha, respeitando o nosso livre árbitrio.
Em síntese, não precisamos ansiar querer brilhar mais do que o sol ou as estrelas. Eles têm seu brilho natural; e nós também temos o nosso. Dalai Lama já dizia: “O planeta não precisa de mais pessoas de sucesso. O planeta precisa desesperadamente de mais pacificadores, curadores, restauradores, contadores de histórias e pessoas amorosas de todo tipo”. A sabedoria está em gente humilde. Nosso "admirável mundo novo" é complexo. Atualmente vivemos (quase todos), de alguma maneira, dependentes das redes sociais. Nesse mundo virtual que substitui cada vez mais o real. Vivemos na era da dissolução dos parâmetros ético-morais da sociedade, em que o individualismo, o egoísmo, o consumismo e a solidão ganham espaço, em detrimento da sinergia altruísta. Todavia, podemos combater o bom combate, seguindo os exemplos de Jesus e dos girassóis, sem o maniqueísmo do bem e do mal. Daqui deste mundo não levaremos nada, mas deixaremos as lembranças.