

UMA REFLEXÃO SOBRE A LIBERDADE
23 de janeiro de 2016
Liberdade é uma das mais fascinantes palavras, talvez seja o maior sonho de toda a humanidade. Todos imaginam alcançá-la, porém, o difícil é encontrar alguém que a explique.
Ao longo da história, o tema da liberdade tem despertado uma atenção especial nas ciências política, social, econômica e da filosofia. Todavia, compreendê-la não é tarefa fácil, porque demanda uma análise multi e transdisciplinar dos fenômenos e aspectos epistemológicos que cercam a vida humana em sociedade.
Pretendemos aqui nesse singelo texto, sem esgotar o assunto, fazer uma reflexão acerca da liberdade social ou civil, no seu contexto filosófico-teológico, considerando também a natureza e os limites do poder que a sociedade legitimamente exerça sobre o indivíduo.
Stuart Mill em seu ensaio “Sobre a Liberdade” (MILL, 1991), dizia que “o individuo não pode legitimamente ser compelido a fazer ou deixar de fazer alguma coisa, porque tal seja melhor para ele, porque tal o faça mais feliz, porque na opinião dos outros, tal seja sábio ou reto”. Para Mill, mesmo sob controle social, o indivíduo é soberano sobre si mesmo, sobre seu próprio corpo e espírito.
Por outro lado, ao longo da existência, todos já fomos de certa forma presos por algo. Arrisco-me em dizer que a “liberdade” só existe por causa da escravidão. E esta surgiu primeiro.
Olha só que curioso: Antes de sairmos do ventre de nossa mãe estávamos presos pelo cordão umbilical. Assim, quando nascemos, vivemos a nossa primeira experiência de liberdade.
Do ponto de vista biológico está claro que foi necessário primeiro estarmos presos pelo cordão umbilical. Podemos então afirmar que essa prisão foi benéfica. Sem esse “tipo sui generis” de escravidão não seríamos capazes de vir ao mundo. Ela foi nossa fonte inicial de nutrição. Mas, enfim, nascemos e agora nos tornamos livres desse cordão.
Podemos de antemão já constatar que a nossa primeira experiência original, tanto de escravidão quanto de liberdade, foi necessária e benéfica. E que uma nasceu da outra.
Mas, o fato é que uma vez “livres” do cordão umbilical, passamos a estar amarrados (não mais biologicamente) agora pelas correntes que nutrem a sociedade: a família, o Estado, o governo, a nação, a religião... Vivemos em sociedade e, portanto, sob controle social. O indivíduo é limitado socialmente, pois a sua liberdade tem no outro o seu limite e, neste sentido, ele é responsável e passível de responsabilização pelos atos que prejudiquem o outro e à sociedade.
Dito isso, cabe uma reflexão: Podemos afirmar que somos, de fato, livres? O indivíduo é soberano sobre si mesmo, sobre o seu próprio corpo e espírito? Toda liberdade é boa, e toda escravidão é má?
Um pássaro voando pode até representar a liberdade, mas se observarmos bem, até os pássaros são cativos de seus predadores. Apesar da sua sensação de liberdade, assim como os humanos, são seres sujeitos ao acaso das tragédias não visíveis ou ataques imperceptíveis.
Podemos pensar que somos livres, ter a sensação de liberdade, como um passarinho voando. Entetanto, parece mesmo é que somos todos escravos. Somos condicionados pelo sistema; presos pelas correntes do cotidiano, da sociedade que nos atormenta com suas ameaças: a insegurança, a violência, o medo... E até mesmo de forma subliminar, através dos contratos sociais, da burocracia, do trabalho, do capital... Além de sermos também vulneráveis às intempéries e tragédias da vida cotidiana.
Contudo, a mais almejada liberdade, é aquela que está além da matéria, a que desfaz os laços do passarinheiro, das ameaças e nos livra dos perigos iminentes.
É essa a tal liberdade a qual questionamos anteriormente se de fato existe. Essa liberdade transcende a vida secular terrena e passageira. É ela que supostamente irá nos garantir o conforto, a paz de espírito e a felicidade plena.
Como já vimos, temos razões para acreditar que ninguém é verdadeiramente livre aqui na terra, por todas as circunstâncias já apresentadas.
Mas, então por que Jesus, o filho de Deus, quando veio a esse mundo ousou dizer o seguinte?: “E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. “Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres”.
Jesus sabia que éramos e somos escravos, subservientes do sistema social, político e corruptível do mundo. Que estávamos e estamos sujeitos à tirania do governo terreno. E o mundo de Jesus não é este que vivemos. “O meu reino não é deste mundo...” Por isso que a liberdade plena só pode está associada a outro tipo de vida, que não é desse mundo, mas do céu, prometido pelo grande Mestre: O Pai da eternidade e o Príncipe da paz.
Entretanto, se para sermos livres, precisamos primeiro ser escravos (como foi no processo biológico do nascimento, quando éramos presos pelo cordão umbilical); da mesma forma, para alcançarmos a tão ansiada liberdade, do ponto de vista espiritual, resta a nós nascer de novo, agora não mais de forma biológica. Agora presos por Jesus (novo “cordão umbilical”) o paradoxo da liberdade se torna evidente: Ser servo de Jesus é condição sine qua non para quem quer ser verdadeiramente livre. E isso só será possível através desse novo nascimento e do conhecimento da verdade: (o Filho) que liberta.
Diante de todo esse contexto apresentado podemos afirmar então que ninguém é totalmente livre nessa terra? Mesmo com o advento da democracia nos tempos modernos, é fato que as liberdades de expressão e pensamento, (mesmo garantidas pela constituição de países democráticos) ainda sofrem impedimentos pelos diversos tipos de autoridade existentes na sociedade.
É pertinente ressaltar que o próprio Cristo, no seu tempo de peregrinação aqui na terra foi confrontado e depois crucificado, por ter expressado o seu pensamento contrário aos interesses do poder dominante daquela época.
A expressão: “Ninguém é dono da verdade, todos temos o direito do contraditório”, traduz muito bem a legítima reivindicação dos indivíduos por liberdade de expressão e pensamento. Não obstante, a validade disso está restrita ou limitada ao contexto da sociedade a qual vivemos. Enquanto seres terrenos e mortais, podemos até nos contentar com essa liberdade.
Porém, como é de conhecimento, a liberdade que transcende o carnal e o material já foi proposta pelo grande Mestre há mais de 2.000 anos. Mas, se filosoficamente e absolutamente “ninguém é dono da verdade”, como pode Jesus dizer que Ele é a verdade que liberta? Eis aí outro paradoxo, não obstante poder se referir a um Ser absolutamente divino: O Verbo encarnado que habitou entre nós.
De tudo o que dissemos, portanto, a primícia é a seguinte: É muito melhor ser liberto, sem dúvida, escolhendo ser servo do Cristo redentor, do que ser escravo do sistema corruptível desse mundo. A diferença é que ser escravo do sistema, o limite da liberdade é uma mera sensação aparente e passageira, camuflada pelo prazer corporal do poder fazer “tudo” o que bem quiser. Já o escravo de Cristo (aquele que se torna filho) voa livre e prazerosamente, mesmo vivendo nos limites impostos pelo Pai. Sendo servos obedientes a Deus, desfrutará de uma alegria e liberdade eterna e não apenas fugaz,
PEREIRA (2012) em sua reflexão sobre a liberdade chegou à seguinte conclusão: Ninguém jamais foi e ninguém é ou será plenamente livre, mas pelo menos podemos escolher a quem queremos servir como escravos.
Acontece que nem sempre fazemos escolhas conscientes e corretas. Por vezes, nos tornamos escravos de forças que nem mesmo sabemos como se apossaram das nossas vontades.
Para concluir, se queremos ser libertos, primeiro temos que lançar fora toda arrogância, soberba e vaidade. Não podemos agir como os fariseus que “tudo sabiam”, mas negavam a palavra do Senhor Jesus e, quando pressionados pela Sua palavra, alegavam que não eram e nunca tinham sido escravos, desconsiderando, inclusive, o poderio romano sobre eles:
Disse Jesus aos judeus que haviam crido nele: “Se vocês permanecerem firmes na minha palavra, e verdadeiramente serão meus discípulos. E conhecerão a verdade, e a verdade os libertará”. Eles lhe responderam: “Somos descendentes de Abraão e nunca fomos escravos de ninguém. Como você pode dizer que seremos livres?” 34 Jesus respondeu: “Digo-lhes a verdade: Todo aquele que vive pecando é escravo do pecado. O escravo não tem lugar permanente na família, mas o filho pertence a ela para sempre. Portanto, se o Filho os libertar vocês de fato serão livres".(Jo 8:31-33 NVI).
Como diz ainda PEREIRA (2012): “Não se apresse em dizer que é livre se, de fato, você não é. Faça uma reflexão, com sinceridade diante de Deus e, se você chegar à conclusão de que está preso, já deu o primeiro passo para sua libertação”.
Entretanto, em nome da liberdade de expressão e pensamento, se não quiseres, tens todo o direito de contrariar, discutir e debater, apresentando outros argumentos e opiniões, as quais serão legitimamente ouvidas e respeitadas.
Até porque Jesus foi o maior exemplo: Quando foi contrariado e confrontado ideologicamente pela autoridade romana na época, se humilhou, teve morte de cruz, porém a venceu. E, através da sua ressureição, decretou definitivamente a sua vitória a todos os homens. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça e quem tem fé para crer, creia.
REFERÊNCIA
MILL, John Stuart. Sobre a Liberdade; tradução e prefácio Alberto Rocha Barros; apresentação Celso Lafer – 2. ed. – Petrópolis, RJ: Vozes, 1991 (Clássicos do Pensamento Político; v. 22)
PEREIRA, Sólon Lopes. (2012). Você pensa que é livre? Disponível em <http://www.celeiros.com.br/products/voc%C3%AA-pensa-que-e-livre-/>. Acesso em 21 de janeiro de 2015.
O QUE FAZEMOS NO MUNDO?
(Jaécio Matos)
O mundo mudou, ou melhor, vem mudando ao longo da história. Os avanços da ciência e tecnologia em conjunto com as novas relações sociais; potencializadas pelas redes de internet, vem promovendo mudanças de comportamento nos seres humanos.
Não obstante, não há garantia que todo processo de mudança gere desenvolvimento qualitativo para a sociedade. Não há como negar os inúmeros benefícios. No entanto, também são grandes os males causados. Todos sonham (ou já sonharam) ter um mundo melhor. Como o saudoso Jonh Lennon dizia: Não sou o único sonhador. Resta saber que mundo melhor é esse que queremos.
Quando pensamos em um mundo melhor, logo vem a ideia de justiça social (com a melhoria da qualidade de vida de todos os povos), a garantia da dignidade da pessoa humana e a extinção da pobreza. Na realidade, esse sonhado mundo melhor não seria impossível. O fato é que o poder econômico e os governos constituídos poderiam resolver nossos principais problemas. Dinheiro não falta no mundo para isso, mas os interesses escusos do grande capital, entre outros fatores, aniquilam tal possibilidade de distribuição mais justa da renda para a população. Eles priorizam as guerras ao invés da paz. Nosso mundo é maravilhoso, mas também é terrível. E a gente quer mesmo é viver, é cantar, é sorrir e ser feliz.
Na sociedade, várias são as opiniões e os discursos acerca de como fazer para tornar nosso mundo melhor. Rita Lee, em uma de suas canções, diz: "Me cansei de lero, lero... Me cansei de escutar opiniões de como ter um mundo melhor". E termina a música com esse verso: "Mas, enquanto estou viva e cheia de graça, talvez ainda faça um monte de gente feliz." Em geral, esse desabafo expressa também o nosso sentimento de que existem muito mais palavras do que ações efetivas no trato dessa questão, embora saibamos que estamos diante desse imenso desafio. A filosofia, a ciência, as artes, as religiões tentam encontrar os caminhos. No fundo mesmo, o que necessitamos é de humanidade, é fazermos jus ao privilégio de sermos chamados de "humanos".
Assim, não podemos deixar de reconhecer que, apesar de não sermos capazes, individualmente, de mudar o mundo, podemos fazer parte (se assim quisermos) de uma "corrente do bem", em que a soma contagiante da benignidade poderá afetar a todos. Mas, vale o velho ditado: "Se não podemos (ou queremos) mudar o mundo, podemos mudar a nós mesmos". O velho homem existente em nós não será capaz de agir nessa direção, devido a preconceitos, orgulho, intolerância, imoralidade, intransigência... Realmente, precisamos todos de um “novo nascimento”.
Temos a vida e a obra do Mestre Jesus Cristo como o maior exemplo deixado para a humanidade. Ele revolucionou o mundo inteiro com suas atitudes, ações e seu grande amor. Ensinou-nos como devemos viver e amar. Em um de seus marcantes ensinamentos, Ele alertava: "De que adianta o homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma"? Porque estamos perdendo a nossa alma, ou seja, a alma aqui significando nossa humanidade, os valores universais, a nossa civilidade, a nossa solidariedade, a nossa honra, a nossa dignidade, o nosso amor, tolerância, compreensão, afeto, gratidão... Enfim, ao perder a nossa alma nos tornamos insensatos, imprestáveis, uma espécie de "lixo" para o mundo.
Na verdade, no fundo, parece que ninguém quer mudar o mundo. Nós, humanos, escrevemos e fazemos a história através das nossas ações. A qualidade da mudança depende da nossa sabedoria, capacidade e ética. A história nos ensina que, até aqui, não encontramos o sentido e a ideal transformação do mundo; e, talvez, não encontraremos. Entretanto, se não mudamos o mundo, podemos sim contribuir para torná-lo um pouco melhor. Seja com ações e projetos sócio-culturais, ambientais, ou até mesmo com pequenos gestos ou atitudes singelas de amor ao próximo, fazendo pessoas mais felizes, sem querer nada em troca.
Esse nosso projeto "Cafezin dos poetas" também se insere nesse contexto. Dessa forma, propomos continuar fazendo alguém mais feliz, quem sabe. A contribuição das artes, através da poesia, da literatura, da música, etc, é fundamental, pois, certamente, consegue agregar valores essenciais ao desenvolvimento humano. Se cada um faz a sua parte nessa corrente do bem, assim, juntos, podemos muito. Não importa o tamanho de seu feito. O importante é que tenha sido bom. Ele, com certeza, fez diferença no mundo. Vivemos num grande sistema, onde a atitude de um afeta o todo. Portanto, façamos sempre algo positivo, nem que seja emitir pensamentos iluminados.
Para concluir, cito o exemplo brilhante dos girassóis: Mesmo em tempos chuvosos o girassol não cai, não se inclina para baixo. Ao contrário, em tempos nublados, ele se ergue e se vira para outro girassol, em sinal de complacência e ternura. Isso é muito interessante! Se apenas agirmos como os girassóis, vendo e sentindo os outros em nós mesmos, já seria um grande avanço. Essa deve ser uma ação natural, sem obrigação, sem qualquer imposição externa ou barganha, respeitando o nosso livre árbitrio.
Em síntese, não precisamos ansiar querer brilhar mais do que o sol ou as estrelas. Eles têm seu brilho natural; e nós também temos o nosso. Dalai Lama já dizia: “O planeta não precisa de mais pessoas de sucesso. O planeta precisa desesperadamente de mais pacificadores, curadores, restauradores, contadores de histórias e pessoas amorosas de todo tipo”. A sabedoria está em gente humilde. Nosso "admirável mundo novo" é complexo. Atualmente vivemos (quase todos), de alguma maneira, dependentes das redes sociais. Nesse mundo virtual que substitui cada vez mais o real. Vivemos na era da dissolução dos parâmetros ético-morais da sociedade, em que o individualismo, o egoísmo, o consumismo e a solidão ganham espaço, em detrimento da sinergia altruísta. Todavia, podemos combater o bom combate, seguindo os exemplos de Jesus e dos girassóis, sem o maniqueísmo do bem e do mal. Daqui deste mundo não levaremos nada, mas deixaremos as lembranças.